A uma média de R$ 2,00 a unidade, o dólar estadunidense foi o terror dos esquerdistas mais antipáticos, para os quais os turistas da dourada classe média só se prestariam a comprar muambas no eixo Miami-Orlando...
Esquerdistas mais inteligentes, por outro lado, sabiam que a “nova classe média”, ou seja, os não-nascidos em berços mais elegantes, poderiam usufruir das maravilhas culturais do “Ocidente”, empoderando-se, portanto, às custas de uma paridade monetária favorável a nós!
Mas a velha classe média e partes da esquerda insistiram no discursinho populista de que um real valorizado “desindustrializaria” nosso “parque industrial” e levaria os “exportadores ao colapso”....
Belas armadilhas para os incautos!
Ora, se a nossa indústria não se modernizou, foi pela sua intrínseca mediocridade, a mediocridade daqueles que somente se fiam em um mercado consumidor sem exigência alguma! Com um real valorizado, a importação de tecnologia, o intercâmbio de funcionários, a entrada de novos bens, mercadorias e serviços ficaria facilitada para novas experiências, novas fronteiras, inclusive tecnológicas...
Mas isso não aconteceu. Contentaram-se, todos, com o mundo novo dos Malls da Florida, como se isso fosse a única coisa a ser extraída daquele Real forte...
E o tempo passou, veio a Copa, nosso parque hoteleiro continuou na mesma, empresários de todas as sortes, inclusive dos setores de serviços (donos de restaurantes, agências de turismo, taxistas, etc), aproveitaram para explorar ao máximo o turista e milhares de estrangeiros pegaram um tamanho asco do Brasil que nem pensariam em colocar os pés aqui nas próximas vidas...
E o câmbio, maravilhoso para nós, que poderia transformar nossos portos, aeroportos, estradas, metrôs e demais equipamentos de mobilidade, foi para o ralo da crise da burocracia judiciária, econômica e de confiança que permeia o Brasil de sempre. Um país de costas para o mundo...
Nós poderíamos ter mostrado ao planeta o que uma moeda forte consegue comprar e transformar em termos de sociedade, assim como o Reino Unido tem feito há mais de 200 anos, pois, mesmo com uma Libra fortíssima, o Reino Unido não deixou de ser exportador e importador atroz de bens, serviços e mercadorias, possuindo um dinamismo inerente na área do comércio internacional...
Mas nós, à melhor maneira lusitana, preferimos nos isolar nos mitos recorrentes da nossa Burocracia: se a moeda está forte, controlemos a importação! Se a moeda está forte e o mundo olha para nós, deixemos as obras públicas e tudo o que circunda nas mãos dos mesmos players, dos mesmos empreiteiros, advogados, engenheiros, consultores, etc...Até a mídia não se modernizou, toda a TV aberta foi cedida a pastores e o nosso espaço de telecomunicações é fechado para o resto do mundo...
Então o mundo, por um momento, achou que o Brasil era um país sofisticado, evoluído, com uma moeda forte capaz de engendrar a troca de técnicas e conhecimentos...Mas o que, no fundo, o mundo viu, foi um país conservador e imaturo, imerso no anacronismo cristão e nas simbioses putrefatas que rondam os interesses de seus poderosos, de todas as esferas, em todos os níveis, inclusive de sua intelectualidade universitária...
O mundo viu isso, é fato, e como palhaços em um carnaval triste, os poderosos (de todos os poderes) do Brasil ainda tentam tirar de seu povo pobre as suas últimas gorduras...
E, à luz do que o mundo viu, houve a resposta do mercado: a moeda deste país não pode custar tanto. Um país que só exporta carnes, farelos e rações tem que ser um país de moeda barata...Logo, com o real desvalorizado acabaram os sonhos do dólar dos pobres, e o “verdadeiro” dólar voltará para as mãos daqueles que detêm o patrimônio rural, para a elite de sempre que movimenta somente 3% da força de trabalho do país e que acumula riquezas indescritíveis e, para a classe média assalariada, que viu sua renda fixa murchar em face da desvalorização, sobrarão apenas as fotos tiradas por Iphone da última viagem para Orlando...
O Brasil perdeu uma ótima oportunidade de conhecer o mundo. Todavia, o mundo conheceu o Brasil...