sábado, 7 de novembro de 2015



Centro de Curitiba ou Morro do Alemão?

Outro dia parei para gargalhar quando ouvi, na BandNews, de um burocrata da Prefeitura, que Curitiba era uma das 15 cidades mais bonitas do mundo.

Gente, o cinismo dos burocratas no Brasil de hoje é aviltante. Eles conseguem mentir para a sua clientela desvalida de forma muito “blasé”. Curitiba não é feia nem bonita, ela é ok. Em alguns dias raros, o céu está avermelhado e é bonito observá-la ao longe. Em outros, o cinza mistura-se ao sol e reflete nos vidros. Às vezes levanta um “fog”. Tudo muito lindo para quem já está com a vida feita.

Curitiba, a meu ver, nunca foi alegre, nem melancólica: apenas calma. Nos últimos anos, o aspecto calmo e introvertido foi substituído por um aspecto mais reativo e bravio.

É uma pena que as famílias tradicionais que mandaram em Curitiba por séculos nunca tenham se atentado à nossa geografia: nosso clima de montanha, nossa frentes frias do sul e os embates climáticos subtropicais, o “clash” de ventos... Nossos políticos nunca pensaram em desenvolver equipamentos urbanos vocacionados para este clima, não há piscinas, jardins e termas públicas como na Alemanha Central, ao alcance de turistas e pessoas que não queiram fazer parte dos clubes da cidade.

Como tudo no Brasil sempre piora (desde que me entendo por cidadão), vamos à parte menos “glamourosa” da crônica...

Quando era criança costumava passear pelo Centro. Hoje o Centro de Curitiba está de arrepiar: mais feio que o do Rio, de São Paulo e o de Porto Alegre juntos (podem conferir). É consumo de crack, de maconha, mendigos enlouquecidos e necessitados mesclados a todos os tipos de “tralha” tropeçando pelas esquinas; ruas apertadas cheias de veículos e uma fedentina em todas elas. O “petit pavê” não recebe uma vap há séculos. A cidade em estado terminal, agoniza.

Nossos políticos e nossa elite deveriam fazer uma maratona no centro de Curitiba, já que este é o esporte favorito, atualmente, do “beautiful people”.

A nossa Prefeitura, como seus ‘doutos’ competentíssimos, criou vias calmas em todo o Centro. Ótimo! Ótimo em Londres, ora bolas! Qualquer pessoa sabe que os controles de velocidade por aqui são objetivados à indústria sórdida de multas e eu pergunto aos que me leem: com o centro infestado por “zumbis” humanos, quem tem coragem de parar à noite nas ruas do anel central? Todo mundo será multado? Quem vai ter coragem de parar o carro de madrugada perto do Guaíra ou do Guadalupe? Burocratas, respondam-me!

A cidade mostra sua decrepitude nos dias cinzentos, afinal moramos em um país pobre. Países pobres deveriam ser todos tropicais, isso ameniza a feiura da miséria, o descaso dos poderosos e o escárnio da burguesia estatal reinante, ensimesmada, crente que propaganda é governo e que tudo se resolve sob o viés de um direito decadente.

Dois locais de Curitiba, para mim, sintetizam a Curitiba de 2015: o Passeio Público e o Pátio Batel. Nestes dois locais se verificam os extremos da pirâmide social, ambos são repulsivos. Nos dois lugares se vislumbra a relação que o Estado têm com os seus destinatários: no Passeio Público, o lado grátis do desprezo governamental na forma mais vil; no Pátio Batel, o cinismo do acúmulo de capital na mão de poucos que vivem nas tetas de uma pátria leniente representada na cidade privatizada, higienizada, aburguesada, amesquinhada, tudo agradabilíssimo e triste ao mesmo tempo, pois, para além de seus mármores, há um país exaurido em um modelo que mescla a proteção da concentração de renda e o populismo econômico, duas bombas atômicas para a miséria e o baixo crescimento.

Enquanto o curitibano médio continuar alheio a uma reflexão mais sensata sobre a cidade, ficará difícil pensar uma cidade que não exista apenas em extremos, que seja mais digna e que não provoque ímpetos suicidas em dias tristes como o de hoje.

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